Hoje fui a peor mestra da história dos Mestres do Universo.
Pedagógicamente falando, porque mona fui bem mona, com umha chaquetinha branca, umha saia azul celeste…
Foi a classe de cuarto B a culpável de todo quanto aconteceu. É umha turma faladora e simpática, sempre insuportável, sempre indispensável, sempre meiga, sempre assassinável.
Sexta-feira, última hora, último esforço, último riso frouxo.
Reparto exames. Moi boas notas; algaravia. Um sobresaínte discute com um notável baixo. Um bem e um bem alto intercambiam tazos peganhentos sem recato. Um suficiente adeja e tira plastina celebrando o seu triunfo. Um notável alto, e Asperger nom diagnosticado, decide que é hora de marchar e pom o casaco.
«Nom é a hora. Polo menos escoitemos esta cançom que vos trouxe….»
Algaravia, algaravia, garavia, via, via, via, ia, ia, o.
Berro e reberro.
Decido e requeteberro: «Tendes todos dous pontos menos no exame. Por mal comportamento. Já nom há sobresaíntes, os setes som cincos, e os seises e os cinco estam reprovados.»
É Marcos quem abre a veda. Umha tímida bágoa sulca a sua bochecha. Noelia anima-se, fai força, e a sua face obscurécese até que consegue tingir a cara toda da cor dum guiri abrasado. Nese momento sobem-se ao carro Carlos, Natalia, Abdel, Mihaela, Marta Primeira e Marta Segunda. Unem-se preguiçosamente David, Julián e Patricia, que todo o fam com demora e lentidom. E xa por fim tiram tamén a toalha Angélica, Claudio e um Mohamed distraído.
O coro de pranteiros começa sereno enquanto eu tento explicar os benefícios do bom comportamento e as vicissitudes da pouca disciplina… Mas os choros aumentan e surgem soluços e ofegos…
Há cinco ou seis superviventes aos que o desgosto e nervosismo entrou-lhes polo outro lado, como a cocacola nas festas de aniversário, e em lugar de lacrimejar escápase-lhes um riso trampulheiro. Miram-me de esguelho com olhos saltimbaquis. Eu sorrio-lhes de volta; som os meus náufragos e devo rebocá-los a porto, assim que decido tomá-los de exemplo:
«Mas nom vos ponhades assim! Mirade que bem encaixam os castigos Fabio, Andrea e Lucas…»
A cara de Lucas pom-se séria. Entra-me o medo a perder un marinheiro mais e decido abandonar os exemplos e tentar com outra cousa:
«Tranquilidade, pequenos, nem que estivéssemos en Primária, a que vem tanta lágrima?»
Vaia, quería dicir Infantil…
«Claro que estamos em Primária!»
Berram sem consolo…
«Quería dicir Infantil…»
Tarde, querida.
O pequeno Abdel aproxima-se como gato caçador e esta-me chantageando em modo mutis: Colhe-me a mam enquanto chora e sorve os mocos. Marta Segunda está a ficar sen lágrimas e já nom pode mais com a pena de ver como o seu 9,5 se transforma num 7,5… Eu já nom sei por quem choramos nem por quem rimos, mais já passan dez minutos da hora do começo da fim de semana e tenho um chorom na porta, co abrigo posto e agarrado a sua mochila de rodas, que parece afogar na mais fonda das tristezas.
Nom o faças, digo-me unha e outra vez, de fazê-lo perderam-che o respeito, nom o faças… nom o faças… nom o faças… Aí vou:
«Está bem, petardos! Nom baixo as notas, nom choredes mais!»
Aginha nom vejo lágrimas, nom há nem umha soa pinga na aula, as suas caras estam mais secas que um campo andaluz. De golpe, aquelas faces rosas, vermelhas e arroxeadas som agora a viva imagem da ebriedade, da alegria e o alvoroço. Um espontáneo tira o casaco ao ar como se celebrasse a chegada da democracia. Outra emocionada rompe o regalo do dia do pai; do seu e do da sua companheira, que levam umha semana a construir e a decorar. E longe de se entristecerem, morrem de tanto rir e alçam os seus estropícios orgulhosas para que os vejam os demais.
E de pronto, a minha lapidaçom, o meu merecido, a fim do conto, a má nova em sobre enganoso e colorido:
Um novo rumor começa, acompassado esta vez, e estoura num berro alegremente bofeteador:
ESCARAMUJO OÉOÉ OÉ, ESCARAMUJO OÉOÉ OÉ, ESCARAMUJO OÉOÉ OÉ, ESCARAMUJO OÉOÉ OÉ, ESCARAMUJO OÉOÉ OÉ, ESCARAMUJO OÉOÉ OÉ, ESCARAMUJO OÉOÉ OÉ, ESCARAMUJO OÉOÉ OÉ, ESCARAMUJO OÉOÉ OÉ (Viva escaramujo! Viva escaramujo! Viva escaramujo!...)...